A II Expo Internacional da Consciência Negra aconteceu durante os dias 18, 19 e 20 de novembro de 2022. Com mais de 18 mil visitantes, 74 estandes de empreendedoras e empreendedores pretos, palestras, shows e muito mais, o evento apresentou grandes nomes da literatura que debateram e conversaram sobre suas obras, levantando muitas reflexões sobre diversos assuntos.
Confira, agora, um resumo de cada um dos painéis do dia 18 de novembro. Para assistir completo, acesse o Facebook do Portal Áfricas.
Vamos lá?
Painel 1 – A língua africana no dialeto Tropicália: Trajetórias e percursos
No primeiro painel, os convidados Yeda Pessoa de Barros, etnolinguista, e Sérgio Rodrigues, escritor e ensaísta falam sobre uma ideia da trajetória ultramarina dos muitos idiomas falados no Continente Africano e entre falantes do Brasil: o trópico como missão.
Como ainda hoje podemos perceber suas influências na linguagem dos brasileiros: o que nos marca e nos define como marca nacional.
Você sabia que muitas palavras ditas hoje no Brasil são de origem africana? Caso não, isso se dá devido ao racismo estrutural que faz com que esse apagamento se faça presente na vida dos brasileiros.
Infelizmente, a mídia e o ensino regular são parte desse apagamento. Segundo Yeda, “O tipo de racismo mais perigoso que existe é o estrutural, pois está profundamente enraizado na nossa fala, na nossa língua, então é preciso que a gente reveja o que falamos.”
No século XVI aconteceram as primeiras influências africanas no português brasileiro com a chegada dos povos trazidos da África. O primeiro dicionário monolíngue da língua portuguesa foi escrito em 1789 por Antônio Morais e Silva.
No dicionário, por exemplo, era possível identificar várias palavras vindas de línguas africanas. “A palavra “moleque”, de origem angolana, quer dizer “criança”, mas hoje, é dita muitas vezes de forma pejorativa para se referir a crianças negras”, relembra a convidada. Além disso, as palavras “dengo”, “samba”, fubá”, “cachaça”, entre outras, entram na lista.
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Painel 2 – Produção literária sob contexto da pós-abolição
No segundo painel, os convidados Eliana Alves Cruz, escritora, Itamar Vieira Júnior, escritor e Valéria Lourenço, poeta, mediadora, falam sobre o papel da literatura atualmente.
Nos últimos 134 anos, o número de produção autoral negra de autoria masculina e feminina passou a contextualizar os efeitos da escravidão em nosso país. De Maria Firmina dos Reis a Carolina Maria de Jesus, o que a literatura tem a nos dizer hoje? O que “Torto Arado” e “Solitária” trazem de mensagem para a sociedade?
A literatura ainda tem muito a nos dizer, para Elaine, enquanto a sociedade necessita de informações a respeito da cultura e de outras questões que envolvem direitos, é preciso dizer que a literatura tem esse papel muito bem fundamentado.
Todo autor, independentemente de sua origem étnica, escreve e reflete sobre o seu tempo, assim como Machado de Assis, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus foram movidos pelo seu ímpeto criativo, foram pessoas que deixaram seu testemunho sobre o Brasil.
O papel de autores e autoras atuais é fazer o mesmo e assim passar para as próximas gerações o que ocorreu no seu tempo e compreender o percurso que foi feito. Para Itamar, “Precisamos olhar para o que acontece hoje para podermos ter um futuro diferente, projete um futuro melhor”. Ou seja, o papel da literatura é contar a história, só que gerando emoções.
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Painel 3 – Sobre o amor: O que os mitos e a filosofia africana têm a nos dizer
O terceiro painel é sobre o amor. Renato Noguera, filósofo, Carla Akotirene, pensadora e Angélica Ferrarez, mediadora, comentam sobre o papel do amor e como ele é visto e sentido na sociedade atual, principalmente quando o assunto são pessoas pretas.
Muitas vezes o amor é abordado de uma forma afetivo-erótica, nas novelas e nos filmes é sempre mostrado como uma forma das pessoas se completarem. Para Renato, é possível pensar no amor como uma construção social, e como o amor e o afeto que organiza. “A solução do amor é manter nosso eixo afetivo, é por isso que muitas vezes, nós gostamos tanto de falar do amor, o amor é um efeito catalisador de bem-estar”, comenta.
Para Carla, a solidão da mulher negra é muito presente. Enquanto mulheres brancas são vistas como merecedoras, mulheres negras, não. E quando essas mulheres entendem ainda mais o seu valor, estudam, trabalham, o amor se torna cada vez mais distante, tanto pela falta de vontade, quanto pelo medo do homem de se sentir inferiorizado.
Além disso, durante o bate-papo, a escritora e militante comenta sobre o sistema prisional. De como o amor romântico leva mulheres a infringirem a lei em nome do amor por seus filhos e companheiros e completa: “O Brasil é o 5º país em feminicídio porque as pessoas amam, mas com violência”. Ou seja, o amor, que deveria ser um instrumento de bem-estar como comenta Renato, é romantizado ao ponto de privar a liberdade.
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Painel 4 – Racismo no esporte: Futebol e afins
O quarto e último painel do dia 19 de novembro abordou o tema Racismo no Esporte com os convidados Robson Caetano, velocista, Mário Aranha, jogador e Lica Oliveira, atleta, mediadora.
O esporte, de modo geral, tem sido alvo de inúmeras práticas racistas, dentro e fora do Brasil. Até que ponto dirigentes, cartolas, jogadores e torcidas organizadas colaboram para sua propagação, dentro e fora de campo?
Segundo o Seminário de Combate ao Racismo e à violência no Futebol, em 2021 foram registrados 158 casos de discriminação, desses, 124 ocorreram no futebol e 34 em outros esportes.
Muitos atletas foram incentivados a não denunciar casos de racismo, consigo e com os colegas de campo. Aranha comenta que passou por muitos episódios de racismo, o mais conhecido deles foi durante o jogo do Grêmio, onde foi alvo de ofensas.
Diante disso, o jogador fala da importância de uma educação antirracista para jogadores de futebol. “Como querem que eles falem sobre algo, se não entendem assunto nenhum?” questiona.
A história do Brasil, principalmente em relação às pessoas negras, foi retratada por pessoas brancas, o que resultou em apagamento ancestral, o que faz com que o conhecimento a respeito da própria história seja negado.
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