Primeiro dia de atividades abordou também o racismo religioso, o movimento negro e o carnaval; evento gratuito vai até terça-feira (21) no Memorial da América Latina
A III Expo Internacional Dia da Consciência Negra começou neste sábado (18) com debates sobre educação, religiões africanas, movimento negro e carnaval. A banda BaianaSystem encerrou as atrações do primeiro dia do evento, que teve sua programação alterada por causa do alerta da Defesa Civil sobre o risco de tempestades em São Paulo. Mesmo assim, cerca de 4 mil pessoas foram ao Memorial da América Latina e aproveitaram as atividades até às 16h.
Neste domingo, 19, o festival antirracista gratuito começa normalmente às 10h, exceto em caso de nova orientação da Defesa Civil. A recomendação é acompanhar as redes e site da Expo para eventuais mudanças de agenda.
O primeiro painel de debate deste sábado abordou o tema-chave da Expo: “20 anos da lei 10.639/03: reflexões, impactos e desafios”. A legislação tornou obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas públicas e privadas, o que posteriormente foi ampliado para contemplar a temática indígena. Participaram da conversa as professoras Helena Theodoro e Jussara Santos e o escritor Basa Ilele Ngone.
Eles destacaram, entre vários aspectos, como a promulgação desta lei foi fruto de anos de luta do movimento negro e o fato de que a educação está na base da construção de uma sociedade antirracista.
Helena, que é pós-doutora em História Comparada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), enfatizou o papel dos professores na construção da escola como um espaço afetuoso e empático.
““Professoras e professores, vocês precisam conhecer a nossa história e fazer com que, o ano inteiro, a nossa escola seja uma escola agradável, alegre e prazerosa, e que as crianças aprendam sentindo”, afirmou.
Na sequência, a conversa foi sobre “racismo religioso: um crime a ser combatido”, com o advogado e ex-Secretário de Justiça de São Paulo Hédio Silva Jr, a professora de Direito e Secretaria Municipal de Justiça de São Paulo, Eunice de Jesus Prudente, e a assistente social Cláudia Adão.
No começo da tarde, o BaianaSystem subiu ao palco principal e encheu o local dedicado aos shows. Um dos momentos mais marcantes foi o tradicional bate-cabeça. Como de costume, os fãs foram convidados a abrir uma roda no centro da plateia e, em seguida, tomaram novamente o espaço, pulando e cantando.
Ao mesmo tempo, as palestras continuavam. O movimento negro e suas conexões com movimentos internacionais foi o tema discutido pela jornalista e ativista Juliana Gonçalves, a especialista no desenvolvimento de carreiras negras nos Estados Unidos Kimberly Brown e o influenciador e apresentador AD Junior.
O último painel falou sobre “as origens do Carnaval Negro no Brasil”, com participação do professor e ativista Juarez Xavier, da cientista social Kelly Adriano e do sambista e sociólogo Tadeu Kaçula.
Os palestrantes apontaram o caráter de resistência e luta antirracista que originou o Carnaval feito pela população negra. Juarez pontuou que essa foi uma estratégia política para sobreviver “à brutalidade da escravização e do racismo”, que tentou embranquecer a população brasileira entre o final do século XIX e início do XX.
“A escola de samba surge num contexto de reconstrução da subjetividade negra, de rehumanização, de exaltação do homem, da mulher, da criança e da cultura negra”, explicou.
As palestras estão sendo realizadas no auditório da Secretaria de Estado da Pessoa com Deficiência. A Expo ocupa todo o Memorial da América Latina. Do outro lado da passarela, perto do palco principal, mais de 180 expositores participam da feira de afroempreendedores.
A secretária Marta Suplicy, da pasta de Relações Internacionais, que organiza a Expo, visitou os estandes depois de conferir a exposição interativa “Olhos que Emocionam”. Ela também conversou com motoristas e cobradores de ônibus da cidade que participaram de um treinamento. A SPTRANS mantém no Memorial um ônibus adesivado da campanha Ponto Final ao Racismo.
“Vocês cumprem um papel essencial na nossa cidade para que ela seja mais gentil e livre de preconceitos”, afirmou a secretária durante o bate-papo, que contou com a participação da gerente de projetos e coordenadora da Expo, Elaine Gomes. “Não podemos tolerar qualquer ação racista. Se presenciarem alguma situação racista, denunciem”, completou a secretária.
Os secretários da Educação, Fernando Padula, e do Abastecimento, Carlos Fernandes, também visitaram a Expo. A pasta da Educação é parceira de SMRI na política pública São Paulo: Farol de Combate ao Racismo Estrutural, que deu origem à Expo. O festival tem uma área inteira dedicada à educação e as crianças, com teatro e contação de histórias.
A Expo Internacional Dia da Consciência Negra vai até terça-feira (21), das 10h às 22h. A cada dia, quatro painéis de debate sobre temas relacionados à luta antirrascista são apresentados ao público. Além disso, há mais de 15 atrações musicais e diversas atividades à disposição da população. As palestras têm transmissão no YouTube do Farol Antirracista.
O evento é uma iniciativa da política pública da Prefeitura de São Paulo: Farol de Combate ao Racismo Estrutural, conduzida pela Secretaria Municipal de Relações Internacionais (SMRI) em parceria com a Secretaria de Educação (SME).
Serviço:
Quando: 18 a 21 de novembro, das 10h às 22h
Onde: Memorial da América Latina, Av. Mário de Andrade, 664 – Barra Funda, São Paulo. As palestras ocorrem no auditório da Secretaria da Pessoa com Deficiência.